Pequena variação genética impede que bactéria se manifeste no Brasil

A grande maioria das bactérias do tipo Escherichia coli (E. coli) é comum ao trato digestivo humano. No entanto, há um grupo de E. coli que compõe a família “Stec”. Elas produzem uma toxina chamada Shiga, que pode causar complicações graves ao organismo. Curiosamente, as bactérias dessa família encontradas no Brasil não desenvolvem os problemas esperados. Um estudo feito pela USP, junto ao Instituto Butantan e à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), descobriu o porquê dessa diferença. Para entender esse caso, o Jornal da USP no Ar conversou com o professor Carlos Alberto Moreira Filho, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e coordenador do projeto.

A contaminação por essas bactérias é dada principalmente através do consumo de carne bovina contaminada. Em países como Austrália, Japão e Argentina, as E. coli dessa família específica, ao infectarem o corpo humano, podem levar ao desenvolvimento da Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU) – que causa insuficiência renal e pode levar à morte. A doença acomete principalmente crianças com menos de 5 anos.

O professor explicou que o estudo se iniciou através de uma comparação entre uma amostra de bactéria australiana e uma correspondente brasileira. “Descobrimos que as brasileiras não possuem um grupo muito pequeno de 15 genes, mas que se expressam nas bactérias dos outros países”. Ele aponta que as E. coli estrangeiras que possuem essa pequena diferença conseguem “tapear as células do trato digestivo”. De certa forma, elas passam despercebidas e se mantêm ali, produzindo a toxina Shiga – que leva ao comprometimento da função dos rins.

“Nós até temos casos de Síndrome Hemolítico-Urêmica no Brasil, mas em número bem menor do que em outros países e causados por outras bactérias.” Em abril, o Ministério da Saúde registrou em uma creche do Espírito Santo a primeira morte brasileira por surto de E. coli. O professor reforça a necessidade de se manter vigilância constante, principalmente pelo fato de países fronteiriços, como a Argentina, apresentarem casos mais frequentes. “Vamos monitorar com o auxílio dos estudos que já foram realizados e permitiram maior entendimento sobre essas bactérias”, conclui.

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