Modelos organizacionais afetam saúde mental de trabalhadores

A USP discutirá, entre os dias 21 e 23 de agosto, os novos desafios trazidos pelas mudanças nas relações de trabalho, no 10º Colóquio Internacional de Psicodinâmica e Psicopatologia do Trabalho. Pesquisadores nacionais e internacionais debaterão o cenário atual de precarização crescente das relações profissionais e contribuirão com temas relacionados à saúde psíquica. As propostas de psicodinâmica visam justamente a propor debates e reflexões que possam transformar profundamente o trabalho nas diferentes instituições e organizações, com objetivo de que os cenários de trabalho patogênicos não prevaleçam, e que seja possível construir aqueles que propiciarão condições para que cada um, individual e coletivamente, possa trilhar caminhos que visem à emancipação.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, Laerte Idal Sznelwar, organizador do evento, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica (Poli) e especialista em Psicologia e Psicodinâmica do Trabalho, conta que a importância do tema se dá justamente pela pouca discussão sobre a dimensão da importância do trabalho como perspectiva de realização pessoal e de contribuição social. Esses fatores são importantes para entender o cenário atual que, na perspectiva de Sznelwar, é injusto. ” Muito se fala da má distribuição de renda, mas pouco se comenta sobre a distribuição de um trabalho desafiador, interessante, que fica restrito a poucos. Hoje em dia, isso piorou ainda mais como um fenômeno que tem muito a ver com o advento do neoliberalismo, porque, de uns tempos pra cá, vem se estimulando a vontade dos sujeitos de existirem, serem reconhecidos e terem um papel na sociedade como pessoas, e isso incutiu nelas a ideia do empreendedor individual, a do fazer sozinho, a de virar uma pessoa jurídica em muitas profissões. No entanto, não existe qualquer tipo de atividade que seja individual. Todo trabalho é relacional, e a destruição da visão do coletivo é um dos fatores que contribuem com a precarização que vemos hoje”, defende.

Segundo o especialista, os problemas em relação à saúde mental do trabalhador são motivados pela organização do trabalho: como ele é dividido, como as pessoas são avaliadas e quais responsabilidades assumem. Mudanças na legislação e nas próprias relações vinculadas a esse ambiente potencializam a precarização, que se estende também às relações acadêmicas: “Situações semelhantes acontecem dentro da universidade, incluindo estudantes, funcionários e professores que vivem na mesma égide de trabalhos organizacionais patogênicos, ou seja, quaisquer áreas que estão mais preocupadas com quantidade e não com qualidade, às custas de uma dita produtividade. Precisamos discutir isso, porque todas as profissões estão sendo afetadas”.

A psicodinâmica do trabalho é uma área do conhecimento que se desenvolve há cerca de 40 anos, expandindo os discursos anteriores da psicopatologia e colocando-os sob uma perspectiva de emancipação. O professor explica que “através de estudos nessa área, feitos inicialmente por teóricos franceses, mostrou-se que o trabalho nunca é neutro: ou ele leva o indivíduo a um processo de alienação ou a processos emancipadores, no qual se pode crescer mais como profissional e como sujeito dentro de um determinado coletivo. Para isso, é necessário discutir sobre a realidade enfrentada atualmente, até porque o trabalho é fundamental para o desenvolvimento da cultura de uma sociedade, mesmo aqueles não reconhecidos, como a maternidade”.

O colóquio abordará esses assuntos detalhadamente, buscando disseminar essa discussão. Para participar, é necessário realizar inscrição prévia ou no dia do evento, sendo que há alteração nos valores de acordo com a data. Mais informações podem ser obtidas no site do Departamento de Engenharia de Produção. Inscrevendo-se pelo link, há a possibilidade de usar cupons de desconto na inscrição.