Coquetel com menos medicamentos facilita tratamento do HIV

O  Núcleo de Apoio à Pesquisa em Retrovírus da USP  tem como proposta principal integrar diversas linhas de pesquisa e organizar processos que podem resultar em melhorias no cuidado à saúde de pessoas infectadas por retrovírus.  Além disso, o núcleo visa capacitar pessoal em aprimoramento de tecnologias de investigação e no cuidado aos pacientes com retroviroses. Nesta semana, o Núcleo promove evento para apresentar novas abordagens no combate ao HIV-Aids.

Estudo com amostragens de todo o mundo, publicado no New England Journal of Medicine (importante periódico especializado), aponta que o momento ideal de se começar o tratamento do vírus é logo após a detecção. “Muitos dos pacientes que chegam aos ambulatórios do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do Hospital das Clínicas (HC) vem após a triagem do banco de sangue. Descobrem após a doação”, diz o professor Jorge Casseb, coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) em Retrovírus do Instituto de Medicina Tropical (IMT) do HC da Faculdade de Medicina (FM), ao Jornal da USP no Ar.

Os atendimentos ocorrem às quartas e sextas, pela manhã, no Emílio Ribas, e nas tardes de sexta no Hospital das Clínicas — onde se dão há 30 anos. Os pacientes infectados com o HIV hoje tem tratamento gratuito oferecido pelo governo, e segundo o médico, mais simples do que era. Ele conta que “de uns 3 anos para cá, começamos a usar as drogas aplicadas no primeiro mundo. Hoje são menos medicamentos e efeitos colaterais a longo prazo. A pessoa consome tenofovir e outros dois comprimidos a qualquer hora do dia”. Dos 500 pacientes acompanhados pelo NAP, apenas 20 não responderam satisfatoriamente aos antirretrovirais.

O docente alerta também sobre o HTLV-1. Da mesma família do que o agente etiológico da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), esse vírus pode causar mielopatia, ou seja danos nervosos, principalmente na medula espinhal, comprometendo os movimentos do corpo. Menos comum no Brasil, a manifestação pode se dar como uma leucemia, resultante do ataque do próprio organismo às células-T (importante mecanismo imunológico). São entre 600 mil e 800 mil infectados no país, apesar de seu desconhecimento entre a população.

Diferente do HIV, ainda não existe um recurso terapêutico específico ao HTLV-1. Os últimos congressos de especialistas em infecções por retrovírus definiram o uso de corticoides, de 45 em 45 dias, como a melhor solução provisória. Mas, infectologistas ainda procuram o melhor método, por isso a importância de Núcleos de Apoio à Pesquisa, como o coordenado por Casseb. “O grupo foi criado há 4 anos com o intuito de aglutinar pesquisadores que trabalham com variados retrovírus, como o HPV e o HIV. Suas diretrizes são o avanço científico e a prestação de serviço. Em vista disso, os 30 pacientes por semana atendidos em ambulatórios”, explica o médico.

O núcleo averiguou alterações de memória em quase 40% dos pacientes portadores do HIV. “Alguns tinham dificuldades até para chegar ao serviço”, indica o professor. Nos casos de HTLV já sintomáticos, por sua vez,  encontrou-se pequenas alterações neurológicas, detectáveis somente em exames detalhados. Logo, além da contenção do retrovírus, é preciso aplicar uma neuroterapia.

Como as estatísticas assinalam são quase 1 milhão de infectados pelo HIV e cerca de 800 mil pelo HTLV-1, portanto um problema de saúde pública, demandando políticas de estado. “O Brasil é um dos exemplos para o mundo nesse campo, mas o avanço científico deve seguir”, finaliza Casseb.

Fonte:

Jornal USP