Surto de sarampo em São Paulo tem origem europeia

A cobertura da vacina contra sarampo, caxumba e rubéola, ou tríplice viral (SCR), caiu significativamente no Estado de São Paulo nos últimos anos, e esta pode ser uma das razões do atual surto de sarampo que ocorre na região. Os primeiros casos apareceram em março deste ano e novos dados apontam baixas probabilidades de que a origem do problema paulista esteja relacionada a casos importados da Venezuela, os quais levaram a um crescimento elevado do número de casos nos Estados do Amazonas e Roraima, no ano passado.

Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, a professora Marta Heloísa Lopes, do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina (FM) da USP e responsável pelo Centro de Imunizações do Hospital das Clínicas (HC), conta que o sorotipo circulante entre os paulistas é o D8, prevalente em países da Europa e do Oriente. É provável que o sarampo tenha sido reintroduzido em São Paulo a partir de casos provenientes daqueles países, e não pelos mesmos fatores que levaram ao surto na região Norte do Brasil, mesmo que o genótipo dos organismos seja igual.”O que aconteceu foi o seguinte: o vírus provavelmente foi reintroduzido na Venezuela também por povos de outros países, e por questões de cobertura vacinal inadequada, resultou em muitos casos e, com a migração de venezuelanos para o Norte, o vírus foi reintroduzido também no nosso país. No entanto, achamos que o surto de São Paulo não é causado por conta disso, mas sim por brasileiros não vacinados que adquiriram a doença em países estrangeiros e retornaram”, explica a especialista.

Em São Paulo, o surto continua e a campanha de vacinação foi estendida. A preocupação com a imunização se dá porque “o sarampo é altamente contagioso, e sem dúvida a diminuição da cobertura vacinal nos últimos anos é uma das causas que culminaram no surto atual. Se tivéssemos uma população adequada e altamente vacinada, principalmente incluindo as pessoas que estivessem viajando para países com casos recorrentes da doença, elas não adquiririam o vírus e o reintroduziriam entre nós”, conta a professora. Fatores como a raridade de novos casos e rumores falsos sobre efeitos negativos da vacina contribuíram para a redução do número de imunizados.

A campanha de distribuição da tríplice viral começou no dia 10 de junho e foi prorrogada até o final de agosto. Ela está disponível para crianças de 6 meses a 1 ano, pessoas de 15 a 29 anos – independente de quantas doses já tenham tomado durante a vida – e para as faixa etárias de 30 a 59 anos, na qual os indivíduos precisam ter tomado pelo menos uma dose da tríplice viral, necessariamente. Marta ressalta que aqueles que não podem tomar vacinas de vírus vivos atenuados – como grávidas e pessoas com problemas de imunidade – devem procurar orientação para receber imunoglobulina, substância que fortifica o sistema imunológico. “Vacinar-se é uma responsabilidade individual e também coletiva. Precisamos da chamada ‘proteção de rebanho’ para evitar a propagação da doença ainda mais”, conclui.