Um estudo feito na USP mostra que o tratamento contra o câncer pode ser mais efetivo com o uso de um quimioterápico chamado paclitaxel. Esse medicamento reduz o crescimento tumoral, através da modulação da resposta imune, e já é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O que se sabia antes era que sua função era a de inibir a divisão de células cancerígenas, que se proliferam rapidamente. A novidade apontada pela pesquisa é a de que, além disso, ele torna os macrófagos (células do sistema imune) ativos novamente no combate à doença, já que, mesmo tendo a função original de proteger o organismo, essas células passam a facilitar o crescimento tumoral quando se encontram dentro do tumor.
A pesquisa foi desenvolvida por Carlos Wagner de Souza Wanderley, pós-doutorando do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (Cridi) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), que deu detalhes da descoberta ao Jornal da USP no Ar. Ele explica que a ideia partiu de uma nova visão em relação ao que é o câncer: “Antes achávamos que era uma doença que dependia apenas da multiplicação celular descontrolada e, por muitos anos, a estratégia foi buscar medicamentos como o paclitaxel, que inibissem essa proliferação. No entanto, descobriu-se que dentro do tumor existem outras células, inclusive do sistema imunológico, como os macrófagos, que inicialmente estariam ali para combatê-lo, mas que por mecanismos biológicos passavam a ajudá-lo a crescer. Como o paclitaxel já era usado no tratamento contra o câncer, fizemos experimentos e constatamos que seu efeito não se resume apenas a inibir a divisão celular, mas que ele também reativa os macrófagos, que passam a combater o tumor.”
Com isso, o quimioterápico passou a ser utilizado em um novo tipo de tratamento, que vem se mostrando mais efetivo. “Como o câncer é uma doença complexa, pensamos que se o atacássemos de várias frentes diferentes poderíamos obter resultados melhores. Por conta disso é que propomos em nosso estudo a associação do paclitaxel com um imunoterápico capaz de modular a resposta imune. De acordo com nossos experimentos, a associação entre as duas drogas produziria um efeito superior à ação isolada de cada uma. Os resultados foram muito positivos, e são indicados no tratamento dos cânceres de pulmão, ovário e mamas”, conta o pesquisador. Para reiterar a validade do estudo, Wanderley acrescenta que, algum tempo após sua publicação, uma outra pesquisa, feita nos Estados Unidos, também associou um tipo de paclitaxel com uma droga imunoterápica, e também obteve bons resultados no tratamento dos pacientes.
A combinação entre imuno e quimioterápicos é uma linha mais recente de tratamento de diversos tipos de câncer. A meta do Cridi é expandir ainda mais os conhecimentos sobre o paclitaxel. Wanderley conta que “ainda precisamos aprimorar a análise de efeitos colaterais e também a da resistência que alguns pacientes têm à imunoterapia. O próximo passo da pesquisa que venho desenvolvendo é justamente tentar entender essas questões e tentar identificar um mecanismo para burlar essa resistência do organismo. Com isso, poderíamos aumentar os benefícios desse tratamento aos pacientes e melhorar cada vez mais a qualidade de sua sobrevida”, revela o especialista.