Lítio possui efeito benéfico em idosos com Alzheimer

Uso do metal para tratar Alzheimer é estudado há anos – Foto: Kat Northern / Flickr-CC

O uso de lítio no combate ao Alzheimer tem sido objeto de diversos grupos de pesquisa há mais de uma década. Novos resultados obtidos por cientistas do Brasil e dos Estados Unidos sugerem que os efeitos benéficos da droga para a memória podem estar relacionados à sua capacidade de retardar o envelhecimento celular, um dos fatores relacionados ao surgimento de doenças neurodegenerativas.

Os dados foram apresentados por Tânia Viel, professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, na última terça-feira (10/9), durante a 34ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), em Campos do Jordão (SP). Parte da pesquisa foi conduzida durante o período que Tânia passou no Buck Institute for Research on Aging, nos Estados Unidos, com apoio de bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Um estudo anterior do grupo havia mostrado que, quando administrado em doses muito pequenas, o metal, usado como estabilizador de humor em pacientes com transtorno bipolar e depressão, ajuda na manutenção da memória de idosos com Alzheimer.

Para testar o efeito do medicamento em células cerebrais humanas, Tânia recorreu a uma técnica de reprogramação que permite transformar células adultas – do sangue ou do fibroblasto (camada mais interna da pele) – em células-tronco pluripotentes induzidas (IPS, na sigla em inglês), que posteriormente foram induzidas a se diferenciar em astrócitos, o tipo celular mais abundante do sistema nervoso central.

Os astrócitos foram separados em dois grupos. À medida que sofriam o envelhecimento celular natural, uma parte era tratada com lítio, enquanto a outra não recebia nenhum tratamento.

“Observamos que o envelhecimento foi bastante reduzido nas culturas que receberam o lítio. O envelhecimento celular é um dos fatores relacionados ao aumento do câncer e de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson”, disse Tânia.

Em outro teste, os cientistas observaram o funcionamento do cérebro de camundongos à medida que envelheciam. Foi usada no experimento uma linhagem de roedores que envelhece mais rápido – em apenas 12 meses, em vez dos 24 usuais.

“Os animais tratados com lítio desde pequenos mantiveram toda a formação da memória. Existe uma relação grande entre o aumento de ansiedade e a perda de memória na velhice. A redução da ansiedade nos animais pode estar relacionada à manutenção da memória”, explicou.