Inflamações geradas por próteses mamárias podem causar linfomas

Em julho, a empresa Allergan Produtos Farmacêuticos anunciou recall de próteses mamárias após recomendação da Food and Drug Administration (FDA), a agência de controle sanitário dos Estados Unidos. O fato se deu por conta do aumento do número de relatos de linfoma associado a próteses de mama. Em função disso, foi criada uma força-tarefa composta por médicos brasileiros que objetiva dimensionar o tamanho do problema no País por meio da identificação de registros. Algo que dificulta essa atividade é que a maioria dos casos de linfoma anaplásico é registrada informalmente, nem todos contam com evidências científicas de que foram os implantes que desencadearam a doença. Uma das possíveis causas é que a prótese gere uma inflamação contínua no tecido mamário que poderia provocar o desenvolvimento do linfoma.

O professor Pedro Soler Coltro, da Divisão de Cirurgia Plástica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, conversou com o Jornal da USP no Ar sobre o assunto. Em entrevista com participação do jornalista Ferraz Júnior, ele esclarece que “o linfoma é um tipo de câncer da cápsula do implante mamário, ou seja, daquela membrana interna que fica ao redor da prótese. Não se trata de um câncer de mama, pois não afeta diretamente as glândulas mamárias. Trata-se de uma doença descrita pela primeira vez em em 1997 e que, nos últimos anos, teve mais casos diagnosticados nos EUA e em outros países, causados por implantes de diversas marcas. Aquelas da Allergan foram recolhidas porque a maioria dos casos registrados se deu com suas próteses, mas existem relatos de problemas com implantes de outros fabricantes também”.

Implante mamário de silicone – Foto: FDA / Gov via Wikimedia Commons / Domínio público

O anúncio do recall não significa que quem possui implante dessa marca precise tirá-lo. A medida apenas determinou que os implantes não vendidos da Allergan retornassem à fábrica. A recomendação do especialista às pessoas que possuem próteses mamárias, inclusive da marca em questão, é de que haja acompanhamento clínico periódico, com a realização de exames: “Nenhuma prótese é vitalícia, pois ao longo do tempo pode sofrer desgastes naturais e rachaduras que implicam a necessidade de substituição em alguns casos. Por isso, independentemente da marca, é necessário observação e supervisão médicas constantes para que se avalie corretamente a situação”.

A associação das próteses mamárias com o surgimento de linfomas é algo recente e objeto de estudo comum entre os cirurgiões plásticos. “Os casos são muito raros, e se manifestam tardiamente, cerca de dez anos após a colocação do implante. Por esse motivo, é difícil realizar pesquisas que descubram com exatidão quais as causas do problema”, conta Coltro. A hipótese mais aceita atualmente é a de que a própria prótese – ou infecções bacterianas geradas pela sua colocação – cause inflamações no tecido da mama e acabe desencadeando o linfoma. Os sintomas mais comuns são inchaços e dores locais.

O especialista também diz que, embora raros, os casos de linfoma são graves: “No Brasil, tivemos uma dezena de casos, e no mundo, cerca de 570, sendo que 33 deles resultaram em morte”. Em função disso, retoma-se a importância do acompanhamento médico regular a partir do momento da colocação do implante.