Especialistas criam comissão internacional para regulamentar edição genética em humanos

Especialistas criam comissão internacional para regulamentar edição genética em humanos

Objetivo é desenvolver critérios científicos, médicos e éticos para a aplicação clínica dessa tecnologia; diretor científico da FAPESP integra comitê de supervisão (imagem: Freepik)

Agência FAPESP – Academias médicas e de ciência em todo o mundo se uniram para formar uma comissão internacional de especialistas que vai analisar e propor regras relacionadas à aplicação clínica da edição genética em humanos. A International Commission on the Clinical Use of Human Germline Genome Editing tem o objetivo de desenvolver critérios científicos, médicos e éticos, caso a tecnologia seja considerada aceitável pela sociedade.

A nova comissão inclui representantes de 10 nações e será secretariada por National Academy of Sciences, National Academy of Medicine e Royal Society. A comissão é uma convocação da National Academy of Sciences e da National Academy of Medicine (ambas dos EUA) e da Royal Society, do Reino Unido, e deve levar a uma maior regulamentação da edição genética em todo o mundo, sobretudo no que diz respeito à edição de linhagens germinativas – os genes que são transmitidos para descendentes.

A iniciativa surge como a mais recente resposta da comunidade científica internacional ao anúncio do nascimento dos primeiros bebês geneticamente editados.

O anúncio feito pelo cientista chinês He Jiankui na Segunda Cúpula Internacional sobre a Edição do Genoma Humano – realizada em Hong Kong em novembro do ano passado – chamou a atenção mundial. Cientistas que participaram do congresso prontamente classificaram o experimento como “profundamente perturbador” e “irresponsável” e o cientista foi criticado por violar princípios científicos e normas éticas.

He afirmou ter usado a técnica Crispr/CAS9 para fazer a edição genética dos bebês. A partir da ação de enzimas, a metodologia descoberta em 2012 é capaz de quebrar as ligações entre os nucleotídeos na molécula de DNA e, assim, inserir, remover ou alterar o material genético em locais específicos do genoma.

O feito de He teve sua veracidade questionada por não ter sido publicado em revista científica nem ter os nomes dos bebês e de outros envolvidos divulgados. A dúvida permanece. Mesmo assim, o anúncio de gêmeos geneticamente editados soou para a comunidade científica mundial como um alerta de perigo à vista.

“As revelações na cúpula de Hong Kong ressaltaram a necessidade urgente de uma estrutura internacional para ajudar cientistas, especialistas médicos e reguladores a abordar as complexas questões científicas e médicas que cercam o uso clínico da edição genética de linhagem germinativa”, disse o presidente da National Academy of Medicine, Victor J. Dzau, em um comunicado.

Para acompanhar os trabalhos da comissão foi criado um comitê de supervisão. Entre os integrantes desse comitê está o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz.

“Trata-se de tema de enorme relevância e atualidade e que requer efetivamente uma discussão cuidadosa e rigorosa, do ponto de vista científico, na consideração dos potenciais riscos e impactos. Parece-me também que o convite representa um reconhecimento à qualidade do trabalho da FAPESP”, disse Brito Cruz.

Cabe ao comitê de supervisão aprovar os membros da comissão e suas tarefas, bem como garantir o andamento dos trabalhos. O comitê também deve aprovar uma lista de especialistas que atuarão como revisores do relatório final da comissão, incluindo suas conclusões e recomendações.

A comissão se reunirá três vezes em 2019, entre reuniões públicas, workshops e seminários. O relatório final será divulgado em 2020.

Mais informações em: http://www.nationalacademies.org/gene-editing/international-commission/index.htm.