A volta do sarampo

“O sarampo até o início da década de 1990 era a segunda causa de mortalidade infantil no mundo. Matava em torno de 2,5 milhões de crianças no mundo”, lembra a virologista Marilda Siqueira. Pesquisadora do Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, ela atribui à expansão da cobertura de vacinação uma mudança no panorama daquela época. Segundo informação da Organização Mundial de Saúde (OMS), houve em 2015 um número estimado de 134.200 mortes causadas no mundo, o que representa um declínio de 79% desde 2000.

A doença é conhecida pelos médicos desde a Idade Média e parecia estar em vias de ser erradicada – pelo menos nas Américas, onde os governos tinham um compromisso neste sentido desde os anos 1990. Mas outro dado da OMS, divulgado na semana passada, deixou transparente que algo aconteceu no meio do caminho: os casos de sarampo no mundo cresceram 300% em 2019, comparado ao mesmo período de 2018.

Na mesma semana, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos revelou que a epidemia de sarampo por lá está acelerando e já é a segunda pior do país em 25 anos. Enquanto isso, o Brasil perdeu o certificado de eliminação da doença, depois que análises de laboratório revelaram que o mesmo subtipo de vírus está circulando no território nacional há mais de 12 meses.

Quais são as causas por trás desse retorno do sarampo? Segundo os especialistas consultados por Ciência USP, falhas nos serviços e maior volume de migrações e viagens internacionais contribuem. Assim como o fato de que menos pais e mães estão levando seus filhos para serem vacinados.

“A gente não pode desconsiderar o efeito dos movimentos e dos ativistas contra as vacinas que, a partir da ampliação da abrangência da internet, ganharam mais espaço e então também contribuem para essas quedas das coberturas vacinais”, diz o médico epidemiologista Expedito Luna, professor do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMTSP), da USP.

O podcast desta quinzena conta como decisões de governo podem levar a surtos da doença e por que o movimento antivacina promove um cálculo equivocado sobre os eventuais riscos da nossa principal ferramenta de combate ao sarampo.

E também neste episódio…

Parece coisa de livro de ficção, mas não é. Pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, conseguiram fazer algumas células do cérebro de porcos mortos voltarem a ter atividade metabólica. Para isso, eles injetaram nos vasos cerebrais um líquido substituto do sangue que forneceu oxigênio e outras substâncias para os tecidos.

As células também reagiram a alguns medicamentos. Depois, testando cortes de tecido do cérebro, os pesquisadores descobriram atividade elétrica em alguns neurônios.

Isso não quer dizer que o cérebro voltou à vida. Não houve nenhum indício de sinalização elétrica coordenada, que é o que seria necessário pras funções superiores do cérebro, ligadas à consciência. Trata-se apenas de um cérebro com alguma atividade celular.

A pesquisa foi relatada em um artigo na revista Nature (em inglês) e, no mínimo, reforça que sabemos muito pouco sobre a chamada morte cerebral.

Ficha técnica

Apresentação: Silvana Salles
Redação: Silvana Salles e Luiza Caires
Produção: Fabiana Mariz
Edição de som: Rafael Simões

Fonte:

Jornal USP